A Espanha e o restante da Península Ibérica mantiveram-se isolados do restante da Europa e das correntes artísticas nomeadamente o Art Nouveau, que já havia se difundido. Espanha constitui um “mundo” à parte, com um grande desenvolvimento econômico e político, uma burguesia catalã ascendente e dinâmica na busca de uma identidade própria e diferenciada dos demais centros europeus. É neste ambiente que Gaudí encontra espaço e capital (mecenas) para desenvolver seus projetos que num primeiro momento é bastante eclético com influências muçulamana, barroca, medievalista e por último gótica, devido à redescoberta e valorização do gótico catalão na busca de uma identidade nacional.
“Todas as obras que formam parte deste primeiro período, partem de um ponto de vista eclético que vai dando origem aos diferentes estilos. Enquanto a Casa Vincens e a vivenda El Capricho são exemplos de uma clara influência da arquitetura muçulmana, os Pavilhões da quinta Can Feliu revelam uma vontade de mudança.” (CAVADAS, 1985, p. 8)
Gaudí embora considerado uma figura da Arte Nova - Art Nouveau – diferencia-se dos restantes artistas no que diz respeito à maneira de ver o ornamento e a natureza, como também a forma de concepção do projeto. “Gaudí era pragmático. Ao contrário dos arquitetos do seu tempo, não trabalhava no estirador. Estava sempre nos estaleiros, a discutir com os operários, reflectia, esboçava e rejeitava”. (ZERBST, 1985, p. 31)
“É esta proximidade com a natureza que distingue Gaudí dos artistas da Arte Nova, entre os quais é muitas vezes incluído. Os ornamentos da Arte Nova orientam-se, de facto, pelas formas da natureza, mas permanecem sempre meramente decorativas, sobretudo bidimencionais, linhas puras. Mas para Gaudí, a natureza era constituida por forças agindo atrás da superfície. Para ele, a superfícia exprimia apenas estas forças no interior.” (GUELL, 1985, p. 31)
Antoni Gaudí é um revivalista e nacionalista catalão que preserva desde o idioma como identidade nacional, até a observação e aprendizagem dos mais pequenos ensinamentos de vida cotidiana, os quais ele soube com muita maestria expressar em suas obras. “Gaudí sentia-se catalão até a medula dos ossos” (ZERBST, 1985, p. 17). Como revivalista Gaudí sofre claras influências da arquitetura catalã tradicional e da arquitetura gótica - arquitetura estrutural. Gaudí observava as obras do passado e delas tirava conclusões para sua arquitetura.
Uma grande influência que Gaudí sofreu nas sua obras, foi a do arquiteto francês Viollet-le-Duc, que esteve ligado à arquitetura revivalista ou neogótica do século XIX e é um dos primeiros teóricos da preservação do patrimônio histórico e de retorno à construção regional. Le-Duc é também considerado um precursor teórico da arquitetura moderna. Nota-se em Gaudí, assim como em Viollet-le-Duc, a crença no princípio de que o valor das obras medievais reside na sua honestidade quanto às características dos materiais e processos construtivos, aspetos que podem ser considerados influências para a arquitetura moderna.
Para além do Viollet-le-Duc, Gaudí obteve influência das teorias de Ruskin, que defendia que “o ornamento é a origem da arquitetura”, ideal que Gaudí defendeu com grande fervor em suas obras. Partia do princípio da arquitetura gótica de equilíbrio de forças, estrutural, leveza e luz atuante para a partir disso desenvolver suas criações – contruções orgânicas, na qual uma idéia segue a outra buscando um equilíbrio tanto de forças entre si como com a natureza circundante, num diálogo que acontece por exemplo no Parque Guell.
“É aqui que Gaudí, pela primeira vez, realiza o seu conceito geral da profissão de arquiteto. Já o seu grande modelo teórico, John Ruskin, tinha defendido a opinião de que a arquitetura devia ser uma síntese das artes devendo o arquiteto ser ao mesmo tempo pintor e escultor.” (ZERBST, 1985, p. 29)
Nessa busca e tentativa de valorização da identidade nacional e entusiasmo pelo exótico, bastante incentivado nesse período na Espanha, Gaudí emprega constantemente em suas obras, tradições artesanais da sua terra: cerâmica, vitrais e ferro forjado, numa composição orgânica e rica em ornamentos.
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